05-08-2015

Proposta dos empresários valoriza atuação de cooperativas de catadores

O país está muito próximo de criar as condições necessárias para ampliar os índices de reciclagens de todas as embalagens. Nos próximos meses, o Ministério do Meio Ambiente deverá assinar o Acordo Setorial para colocar em prática um modelo de logística reversa de embalagens que valoriza e fortalece o papel desempenhado pelas cooperativas de catadores de materiais recicláveis.

A proposta foi apresentada ao Ministério do Meio Ambiente no início de 2014 pela Coalizão Empresarial, grupo formado por entidades que representam diversos setores empresariais, compreendendo fabricantes de embalagens, de produtos comercializados em embalagens, importadores, distribuidores e comerciantes (atacadista e varejista), e passou recentemente por consulta pública, recebendo um recorde de 974 contribuições da sociedade. O modelo sugerido se baseia na bem-sucedida cadeia de reciclagem da lata de alumínio para bebidas.

Para o presidente do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), Victor Bicca Neto (foto), que coordena os trabalhos da Coalizão, a proposta fortalece um agente que hoje é o principal responsável pelo crescimento dos índices de reciclagem no país, os catadores. “Em quatro anos, o número de municípios com alguma iniciativa de coleta seletiva dobrou, já são quase mil cidades. Mas ainda é baixo e não significa coleta em 100% da cidade. Hoje, quem garante o crescimento da reciclagem é o catador”, avalia Bicca. “Por isso a importância de capacitar as cooperativas, garantir infraestrutura, fortalecer essa cadeia informal, atualmente responsável pelos resultados de reciclagem.”

A Coalizão já iniciou uma parceria com o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) que vai produzir um banco de dados com informações de coleta de cooperativas nas 12 cidades que foram sede da Copa do Mundo Fifa de 2014. “É um passo importante para verificar as reais necessidades das cooperativas e quantificar o volume coletado de resíduos sólidos, até mesmo para que se possam atingir as metas que todos desejamos”, afirmou Severino Lima Júnior, do MNCR.

O compromisso da Coalizão tem três pilares: comprar todo material que chegar pelas cooperativas pelo melhor preço de mercado; apoiar e fortalecer cooperativas, capacitando, treinando, viabilizando a infraestrutura necessária; e possibilitar ao consumidor a entrega de embalagens descartadas em Pontos de Entrega Voluntária, especialmente onde não existe coleta seletiva. “Com isso, poderemos ajudar o governo a atingir a meta de reciclar 22% do que hoje vai para aterros sanitários até 2016. A Coalizão vai contribuir para que esse esforço seja atingido”, garante o presidente do Cempre.

A primeira etapa da parceria com o MNCR deve ter seus primeiros resultados no segundo semestre de 2015. Depois disso, a Coalizão irá avaliar onde e como fornecer equipamentos e capacitação para as cooperativas, buscando aumentar a produtividade e melhorar as condições de trabalho dos catadores.

Victor Bicca acha que há muito por fazer ainda, como trabalhar melhor a questão da educação. “É um desafio grande para todos os participantes da cadeia. São hábitos que devem ser alterados, as pessoas precisam perceber a necessidade de separação de materiais. Quanto mais o assunto for divulgado, melhor para todos.”

Mas há, ainda, a necessidade de algumas ações do governo, como adotar um plano industrial para o setor reciclador e desonerar a cadeia produtiva de reciclagem. “O setor de alumínio é bem-sucedido porque tem demanda compatível com a oferta. Mas outros segmentos não têm esse desempenho. E há uma quantidade absurda de impostos sobre produtos reciclados. Hoje você tira uma garrafa ou uma lata usada da rua e vai pagar todos os impostos novamente”, analisa Bicca.