30-06-2022

Fabricantes de latinhas e fornecedores expandem no Brasil

Especialistas na fabricação de latas de alumínio para bebidas participaram da recente feira Latamcan no Brasil, ansiosos para continuar sua expansão por trás de uma indústria crescente na região.

Matéria de Danielle Ingram, The Canmaker

Tradução: Abralatas

A indústria de latas de alumínio para bebidas no Brasil vive tempos de fartura. Em seu quinto ano consecutivo de crescimento, os seus fabricantes atingiram um total de R$ 18,3 bilhões (US$ 3,85 bilhões) em vendas, com 33,4 bilhões de latas entregues aos clientes em 2021. A indústria local vem investindo pesado para acompanhar o aumento de vendas de latas para bebidas, que cresceram 5,2% em relação ao ano anterior, de acordo com a Abralatas.

Espera-se que um total de nove novas fábricas de latas e tampas estejam em funcionamento até o final de 2023. Cinco delas já iniciaram sua produção, incluindo a primeira de latas e de tampas da Ambev, inaugurada em setembro de 2020; a unidade de duas linhas da Crown em Rio Verde, Goiás; e a instalação de uma fábrica com capacidade de produzir diferentes formatos da Ball Corporation em Frutal, Minas Gerais.

Fornecedores do setor também estão investindo no aumento de sua presença na região. A Roeslein, uma das principais produtoras de equipamentos e prestadora de serviços para fabricação de latas, é uma que recentemente expandiu sua presença no Brasil.

A empresa com sede em St. Louis, Missouri, iniciou suas operações no estado de São Paulo em março de 2020 como parte de um plano de expansão global. Em pouco mais de dois anos, já expandiu uma vez e está em processo de construção em um novo terreno de 25 mil metros quadrados, adjacente às suas instalações atuais.

“Fomos encarregados por nossa diretoria a começar a fabricar aqui no Brasil, para ajudar a apoiar os clientes em seu crescimento. Em março de 2020, abrimos nossa primeira unidade e, em um ano, já éramos grandes demais para o espaço que tínhamos. Acabamos de nos mudar para uma nova instalação, com cerca de 80 mil metros quadrados, e, em quatro meses, estamos novamente grandes demais”, diz o gerente de operações para a América do Sul, Robert Hayes.

O prédio anexo dessa nova instalação será uma cabine de pintura a pó totalmente automatizada, onde a Roeslein realizará a pintura e a montagem das unidades produzidas. A empresa espera economizar de dois a três dias no tempo de fabricação por pedido, não mais terceirizando esse tipo de trabalho. A fábrica conta atualmente com 90 funcionários, dos quais 65 trabalham na linha de produção. Hayes diz que o número deve aumentar para mais de 100 até o final deste ano, pois diferentes produtos começarão a ser feitos localmente: “Inicialmente, fabricávamos apenas soluções com transporte mecânico e agora estamos fazendo a vácuo também”, diz Hayes. “Nosso objetivo é começar a fabricar bi-directional spirals e accumulation spirals até o final do ano, avançando para outros itens como elevadores side-grippings, cup air decks para latas e outros itens dessa natureza”.

“Estamos sempre ampliando nosso escopo de fabricação no Brasil, bem como o projeto da nossa unidade. Além disso, vamos avançar no trabalho de instalação, para apoiar os clientes nesse aspecto.”

A unidade de Arujá, São Paulo, atende projetos não apenas no Brasil, mas também em outros países da América do Sul, incluindo Paraguai e Chile. De acordo com Hayes, a Argentina, em particular, tem sido uma fonte constante de trabalho: “Vi muito mais [atividade] na Argentina. Nossa base de clientes está se expandindo e precisamos incorporar esse trabalho extra.”

“Fazemos parte do crescimento de todas os quatro grandes produtores de latas aqui no Brasil e estivemos bastante envolvidos em suas novas fábricas locais. Estamos muito satisfeitos com nossa base de clientes aqui. Esses relacionamentos de longa data são resultado de uma comunicação e fluxo de trabalho muito bons.”

Outro fabricante de equipamentos para produção de latas dos EUA que teve um crescimento impressionante no Brasil é a Stolle Machinery. A empresa sediada em Centennial, Colorado, está no País desde 2005, quando adquiriu um fabricante local de peças para linhas de tampas, a Preferred Machining do Brasil.

Atualmente, mantém uma grande unidade fabril em Indaiatuba, São Paulo, para máquinas que produzem latas e tampas de alumínio de duas peças, bem como a fabricação de peças de reposição para toda a linha de equipamentos Stolle.

Além de equipamentos para linhas de tampas, a unidade também produz máquinas de inside spray, Standun bodymakers e Impressoras Rutherford, que só começaram a ser fabricadas localmente no ano passado: “Começamos a montar a Impressora Rutherford em março de 2021 e já vendemos 12 para grandes fabricantes de latas brasileiras e uma para um cliente argentino”, diz o diretor de vendas e serviços da Stolle Brasil, Geraldo Teixeira. Ele acrescenta que a unidade brasileira ampliou a capacidade de produção para as bodymakers em 2020. “Em janeiro de 2021 tínhamos 175 funcionários, 256 um ano depois e agora 285 na Stolle no Brasil.”

Um dos projetos mais recentes da unidade são os equipamentos para a nova fábrica da Ardagh Metal Packaging em Juiz de Fora, Minas Gerais, que deverá iniciar a produção em setembro de 2023. A Stolle fornecerá o equipamento para as duas linhas de fabricação de latas, com um sistema de back-end e dois de front-end cada.

A PPG, com sede em Pittsburg, Pensilvânia, é outra empresa que está de olho no Brasil. A fabricante de revestimentos para latas planeja fabricar seu recém-lançado revestimento sem BPA Innovel PRO (leia mais na revista The Canmaker) no País até o início de 2023. A produção acontecerá na fábrica da PPG em Sumaré, São Paulo, onde atualmente produz tintas e revestimentos, não apenas para a indústria de embalagens, mas também para os setores automotivo e marítimo.

“Investiremos na construção de uma fábrica dedicada à produção de produtos livres de BPA, o que exigirá novos equipamentos e, claro, uma nova equipe de produção”, explica o diretor de negócios da América Latina da divisão de revestimentos de embalagens da PPG, Marcio Grossmann. “Não há legislação específica sobre BPA em nossa região, mas começamos a perceber que nossos clientes no México estão, cada vez mais, convertendo para revestimentos sem BPA. De fato, desde o início deste ano, a maioria de nossos clientes começou a ter essa discussão conosco, então esperamos que o mercado mude logo e rapidamente devido à demanda, não à legislação.”

Grossmann disse que os fabricantes locais de latas para alimentos que exportam para os EUA ou Europa são quase totalmente convertidos para soluções sem BPA, para cumprir os regulamentos na Califórnia e na França. Ele ainda diz que a crescente conscientização do público sobre segurança alimentar e sustentabilidade é o principal fator por trás dessa tendência: “Os consumidores têm questionado mais sobre a segurança dos produtos que utilizam, como as latas. O público se envolveu muito na discussão global do Bisfenol A.”

Grossmann acrescentou que os vernizes especiais, como aqueles que dão efeitos táteis ou visuais às latas, é outra tendência crescente na região, ocupando quase um terço das vendas de vernizes da PPG na América Latina. “Vamos continuar inovando nessa área, pois isso dá às marcas alternativas de se destacarem nas prateleiras.”

A PPG está trabalhando em um projeto para começar a fabricar seus revestimentos para latas no México, que atualmente são fornecidos por suas instalações nos EUA. A produção também começou recentemente na região da Ásia-Pacífico. A empresa está investindo na expansão da capacidade de Innovel e de vernizes nos EUA e na Europa, onde lidera o mercado de verniz interno sem BPA para latinhas. “Estamos investindo na expansão da capacidade em todas as regiões. Todo mundo está procurando por regionalização, especialmente depois da Covid e do conflito na Ucrânia”, ressalta Grossmann. A maioria desses projetos envolve a expansão das instalações existentes da PPG, que somam 200 em todo o mundo.

A Hyperion Materials & Technologies, fabricante de ferramentas especializadas para embalagens metálicas e outras indústrias, está atualmente investindo em sua fábrica de Diadema, São Paulo, com foco especial em retíficas e equipamentos de metrologia. “Já mudamos de local duas vezes no Brasil e estamos investindo novamente para aumentar a capacidade de produção, para atender a demanda dos clientes locais”, disse o gerente do segmento de ferramentaria de latas da Hyperion, Lluís Miñarro, durante sua apresentação na Latamcan.

A fábrica é o centro de serviços da Hyperion para ferramentaria de latas na América do Sul e é especializada na fabricação de ferramentas para bodymaker, como punções e anéis, além de realizar serviço de retífica.

O centro de competência global da empresa para ferramentas de latas, com sede em Barcelona, também será ampliado. O local, que inclui a instalação de P&D de metal duro da empresa, terá um espaço adicional de 12.700 m² até 2023.

Trabalhando em um processo integrado desde o pó até a ferramenta acabada, a fábrica de Barcelona produz a linha completa de ferramentas para latas da Hyperion, incluindo prensas de cupper, bodymakers e ferramentas para necker.

São Paulo também é o local escolhido para uma nova fábrica da especialista em revestimentos e selantes, a Actega. A fornecedora alemã, que atualmente possui uma fábrica local em Santana do Parnaíba, espera inaugurar no primeiro trimestre de 2023 uma unidade de fabricação de tintas à base de solvente, para as indústrias de embalagens metálicas e embalagens flexíveis, na cidade de Araçariguama.

“Estamos investindo em uma nova unidade local de produção de selantes para estarmos mais próximos de nossos clientes”, revelou Teresa Ramos, gerente de mercado global de latas da Actega, durante sua apresentação. O novo local atenderá fabricantes de latas de linha geral e de três peças; latas e tubos monoblocos; bem como tampas metálicas para garrafas, tampas metálicas para fechamento a vácuo e tampas de alumínio para latas.

 

  • Leia o relatório completo da Latamcan na próxima edição da revista The Canmaker.