23-02-2012

Ensinando a esculpir o peixe

O artista plástico Osni Branco desenvolve encontros de arte com jovens carentes da periferia de São Paulo. No projeto, os adolescentes aprende a fazer esculturas com latas de alumínio para bebidas e resgatam a dignidade

Osni (foto) conta que a primeira versão do projeto Encontro de Arte começou no Japão, onde ele dava aulas de arte. “Havia muitos brasileiros trabalhando em fundo de fábrica e à noite dormindo em contêineres. isso fazia com que houvesse muitos problemas de violência por exemplo”, diz. Ele relata que conversando com um amigo jornalista, info_42_foto_09surgiu a ideia de realizar um Workshop de arte para essas pessoas, ensinando-as a fazer esculturas com latas de alumínio. “Eu já trabalhava com material reciclado. No Japão o cuidado com o meio ambiente é fortíssimo. Até as crianças precisavam levar o material separado e limpo para a escola”, diz.

O projeto foi um sucesso. o resultado do trabalho foi uma exposição com mais de 108 obras na Avenida Paulista, em São Paulo-SP. As melhores obras receberam a votação do público e as 10 selecionadas foram premiadas na Embaixada do Brasil em Tóquio. Com o sucesso do projeto e a volta para o Brasil, Osni implementou o Encontro de Arte em São Paulo com jovens da periferia e com a comunidade ao redor de sua oficina de fundição. o trabalho desses jovens será exposto na ExpoAlumínio 2012, com demonstração de fundição ao vivo e apresentação das obras de Osni Branco. São peixes, árvores, barcos, carros de corrida, rodas-gigantes e o que mais a imaginação permitir.

Osni afirma que a primeira escultura que os jovens aprendem a fazer é o peixe, devido ao simbolismo que ele representa. “A ideia é não dar o peixe, mas ensinar a pescar, desenvolver e fixar essa proposta. Retomar a dignidade, tirá-los da rua, sociabilizá-los, ensinando uma profissão”.

Em relação à criação de obras com latas de alumínio, Osni garante que todas as partes podem ser aproveitadas. Uma escultura de 90cm x 30cm custa entre R$1.200 e 1.500 e leva, em média, de 25 a 30 dias para ficar pronta.

A descoberta da arte

Nascido em 1947, em Araçatuba, interior de São Paulo, Osni Branco veio de uma família de pecuaristas. Morou na fazenda até os cinco anos e tinha verdadeira fixação pela natureza. Quando pequeno, costumava acompanhar os pais na pescaria nos momentos de lazer. Naquela época, os tubos de pasta de dente eram feitos de metal e possuíam valor porque eram derretidos de forma artesanal e transformados em chumbada para serem utilizados como peso na linha de pescar.

“O fogo de lenha, a frigideira, aquele líquido prateado. o pessoal da fazenda fazia as bolinhas e usava palitos de fósforo para formar os buracos por onde a linha deveria passar. Essa foi a minha primeira experiência com a fundição. Desde então eu sabia que queria trabalhar com arte”, conta Osni, que ainda menino já desenhava sua própria roupa e fabricava a capanga, a reata do cavalo e a capa da espingarda.

O artista conta que chegou a ganhar dinheiro fazendo trabalhos escolares para os coleguinhas. Filho de professora no núcleo sociabilizante de um dos assentamentos japoneses criado pelo governo brasileiro, Osni teve a oportunidade de ir estudar no Japão, onde morou por 20 anos. Neste país, formou-se em arte e começou a dar aulas de arte de escultura fundida.

Já adulto, casou-se e estudou em países como Suíça e Itália. Passou pela dolorosa perda de um filho recém-nascido. Convidado pelo Banco Itaú, teve suas obras expostas em galerias de todo o país. Casado, pai de três filhos, duas meninas e um menino, Osni se considera um artista visual que atua em vários seguimentos. ”Trabalho com manifestações visuais. Desenvolvo cenários para eventos, teatros. Acredito que Pai é aquele que fecunda e entrega uma pessoa pronta para a sociedade. Na minha produção artística também é assim”, conta, referindo-se a capacidade de produzir toda a sua obra devido à oficina de fundição que possui, além da compreensão não só de escultura, mas de pintura, designer, dentre várias outras.

>> Notícias da Lata - Edição 42

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