05-08-2015

Custo de energia torna Brasil importador de alumínio

(Da esq. à dir.) Eunice Lima (diretora de comunicação e relações institucionais da Novelis), Mario Fernandez (CEO da ReciclaBR), Milton Rego (presidente executivo da Abal) e Renault Castro (presidente executivo da Abralatas)

(Da esq. à dir.) Eunice Lima (diretora de comunicação
e relações institucionais da Novelis), Mario
Fernandez (CEO da ReciclaBR), Milton Rego
(presidente executivo da Abal) e Renault Castro
(presidente executivo da Abralatas)

Apesar de deter uma das maiores reservas de bauxita do mundo e possuir uma matriz energética de baixo custo, o Brasil diminuiu a produção de alumínio primário e passou a ser importador da matéria-prima. Sem perspectiva de melhoras na economia, o setor busca alternativas e valoriza a utilização de material reciclado. Atualmente, a indústria de alumínio absorve o aumento de taxas de juros e de tarifas públicas, o que tem gerado reflexo negativo para o segmento e necessidade de desenvolver soluções inovadoras.

Nos últimos treze anos o custo da energia elétrica cresceu, em média, 11% ao ano no Brasil enquanto o preço do alumínio, que segue a movimentação da bolsa de Londres, permaneceu praticamente estável no período. “A energia eleva muito os custos de produção do alumínio primário e uma hora a conta não fecha. Pela primeira vez na sua história, o Brasil diminuiu a produção de alumínio primário em 40% e tornou-se importador líquido desse produto. Isso muda a oferta no mercado”, afirma Milton Rego, presidente executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).

Com a crise energética, cresce a importância da reciclagem como fonte de suprimento de alumínio para a indústria secundária, avalia Renault Castro, presidente executivo da Abralatas. “A reciclagem da lata de alumínio, na proporção que ocorre no Brasil, reduz o consumo de energia do setor. A economia em um ano é semelhante à registrada com o horário de verão, ou seja, é muito significativa”, explica Renault. “Se a indústria de alumínio não tivesse reduzido sua produção primária, faltaria energia para o Brasil e estaríamos no meio de um apagão. Não tenho dúvida disso”, destaca Milton.

Países da América do Sul e de outros continentes já trabalham em algum tipo de proteção para sucata de alumínio como forma de economizar energia, reforça Mário Fernandes, CEO da ReciclaBR, o maior grupo de reciclagem do país. “É o que chamamos de ‘energia empacotada’. Sucata é energia. E, hoje, aproximadamente um terço do consumo doméstico do país é proveniente de material reciclado. Isso significa mais de 500 mil toneladas de alumínio reciclado”, explica.

A Novelis, líder mundial em laminados e reciclagem de alumínio, investiu cerca de 450 milhões de dólares para aumentar a capacidade de produção de produtos transformados, que não é eletrointensiva, a partir de alumínio reciclado. Esse investimento também envolve expansão da capacidade de reciclagem, que economiza 95% da energia elétrica, como um recurso alternativo à produção de alumínio a partir da bauxita. “Podemos dizer com tranquilidade que não vai faltar chapa e lata de alumínio para abastecer o mercado”, garante Eunice Lima, diretora de Comunicação e Relações Institucionais da empresa.

Especialistas no mercado de alumínio explicam que o ajuste fiscal pelo qual passa o Brasil limita o crescimento da economia. Segundo eles, até o final de 2015 não há previsão de crescimento do consumo de produtos manufaturados de alumínio. Entretanto, o mercado interno de alumínio tem crescido sistematicamente nos últimos dez ou quinze anos, em substituição ao uso de outras matérias-primas.

“Um crescimento de mais de 5% ao ano no consumo de produtos de alumínio ao longo de mais de uma década demonstra a vitalidade da indústria que mudou a maneira como as pessoas vivem desde o início do século 20”, analisa Milton Rego. O executivo acredita no potencial interno de consumo e na estrutura industrial forte do Brasil para ajudar a equilibrar os índices de queda de produção.

Na opinião de Mário Fernandes, o mercado da reciclagem terá como desafio suprir a diminuição da produção de alumínio primário dos últimos anos e deverá sofrer uma pressão maior sobre sua capacidade de produção. “O alumínio reciclado está disponível no país, mas é possível que haja maior concorrência. Somente os grandes players vão permanecer no mercado”, estima.

O estudo concluído pelo painel de clima da ONU no final de 2014 traz um alerta sobre o impacto da produção industrial nos fatores de mudança climática. De acordo com o documento, se não houver redução de 40% a 70% nas emissões de carbono (CO2) até meados deste século, a temperatura do planeta aumentará em dois graus Celsius. Isso trará consequências preocupantes para o bem-estar humano e para o próprio equilíbrio da biosfera. A sustentabilidade, até agora vista como um comportamento a ser buscado, começa a ser encarada como custo pelas empresas e pelo mercado consumidor. “Isso já acontece em outros países e vai ganhar cada vez mais força no Brasil”, reforça Milton Rego.

O economista Eduardo Giannetti, que participou do Ciclo de Debates Abralatas 2014, afirmou que não há forma de se levar a questão de sustentabilidade para os diversos produtos e serviços sem que isso se transforme em custo. De acordo com Giannetti, enquanto as medidas necessárias para alcançar um alto nível de sustentabilidade não se transformarem em custo, a indústria e o consumidor não vão responder.

O desafio, destaca Renault, é tornar mais claro o impacto de medidas sustentáveis nos processos industriais. “Enquanto isso não for feito, a sociedade e a indústria tendem a relegar a segundo plano a produção e o consumo mais sustentáveis”, enfatiza.

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