03-06-2015

Reciclagem se torna necessária para garantir produção de transformados

São Paulo – A reciclagem do alumínio se tornou mais do que um discurso ambientalmente correto. Fabricantes de produtos transformados são altamente dependentes do material reciclado – principalmente latas de bebidas – devido à escassez do insumo primário.

Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas), Renault Castro, a reutilização do produto é totalmente estratégica. Para este ano, a estimativa do setor é que a reciclagem responda por cerca de um quarto do consumo doméstico.

“Devido ao cenário de custos elevados para a produção do alumínio primário e fechamento de capacidade instalada no País, reciclar se tornou mandatório para a indústria de produtos transformados”, afirma.

O Brasil produz cerca de 24 bilhões de latas de alumínio por ano, de acordo com a Abralatas. Desse total, quase 98% são recicladas. “A demanda pela reutilização do produto está cada vez mais forte com a queda da produção do metal primário no País”, destaca Castro.

Com a redução sistemática de capacidade instalada de alumínio primário no mercado doméstico, principalmente devido ao alto custo da energia elétrica, os fabricantes de latas do setor passaram a priorizar a reciclagem como forma de garantir insumo para a produção local.

É o caso da Novelis, que investiu nos últimos anos cerca de US$ 32 milhões para ampliar a capacidade de reciclagem de latas em Pindamonhangaba (SP) de 200 mil toneladas por ano para cerca de 390 mil toneladas.

A meta global da empresa, controlada pela indiana Aditya Birla, é elevar o conteúdo reciclado dos insumos em seus produtos para 80% até 2020.

A fabricante norte-americana de latas de alumínio para bebidas Rexam também utiliza areciclagem como parte do processo de produção. Com duas plantas no País, a companhia afirma que compra os rolos do metal e devolve as sobras do processo produtivo para o fornecedor reciclar.

“Também mantemos um programa cultural voltado para a inclusão dos catadores, que tem como principal objetivo incentivar a coleta de resíduos sólidos nas cidades onde a Rexam tem suas fábricas”, afirma a fabricante em nota.

Dependência interna

Em entrevista recente ao DCI, o presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Milton Rego, afirmou que neste ano a fabricação de produtos transformados deve contar com cerca de 350 mil toneladas de alumínio reciclado.

“A reciclagem tem crescido muito no País e a questão econômica tem um peso importante nessa conta”, afirma. Segundo o dirigente, o alumínio é um material de alto valor agregado e 100% reciclável. “A sua reutilização remunera toda a cadeia”, complementa.

Segundo Castro, o fator econômico é determinante para o sucesso da reciclagem de latas. “Como se trata de um material caro, a coleta se tornou uma fonte de renda para muita gente no País”, pondera.

Ele conta que em meados de 1999, a reciclagem de latas de alumínio girava em torno de 70% no Brasil. Em 2004, já superava 95%. “A demanda vem crescendo a cada ano, inclusive na indústria automobilística”, reforça Castro.

O dirigente acrescenta ainda que, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a atividade se intensificou. “A corrida pela reciclagem aumentou muito”, declara.

Case de sucesso

Outros mercados também têm na reciclagem uma aposta para garantir insumos, seja pela escassez da oferta ou pelo alto custo. É o caso do segmento de latas de aço, que vem investindo nos últimos anos para aumentar o índice de reciclabilidade do produto.

A Associação Prolata Reciclagem, formada por 15 empresas do setor de latas de aço, investiu recentemente R$ 1 milhão para incentivar a atividade através de centros espalhados por todo o País. De acordo com a entidade, toda sucata entregue às unidades Prolata será remunerada, vinda de qualquer pessoa física.

Porém, segundo o presidente da Abralatas, é difícil atingir o índice de reciclabilidade do alumínio. “O sucesso do nosso setor se deve não só ao preço mais elevado do insumo, como também ao peso mais leve”, explica Castro, que acrescenta. “Muitas vezes, é preciso pagar um preço adicional ao aço reciclado para incentivar sua reciclagem”, pondera.

Fonte: DCI