02-08-2011

Estudos contestam uso de “selos higiênicos” em latas para evitar contaminação

Mitos divulgados há alguns anos na internet coocam em cheque as latas de alumínio que envasam diversos tipos de bebidas. E-mails com falsas informações, que acusam as latas de serem poderosos vetores de transmissão de doenças como a leptospirose, circulam sem base técnica, confundindo a população. Este tipo de ação tem gerado discussões sobre a adoção de medidas como a obrigatoriedade do uso de “lacres higiênicos” que supostamente protegem a lata da contaminação.

Preocupados com o aumento dessas mensagens e boatos, a Abralatas, juntamente com a Associação Brasileira do Alumino (ABAL), Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas não Alcoólicas (ABIR) e do Sindicato Nacional da Indústria de Cerveja (Sindcerv), encomendou um rigoroso estudo ao Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA), do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, para analisar a qualidade higiênica das latas de cerveja e refrigerantes, copos de vidro e canudos em relação às condições de estocagem e de comercialização.

Foram coletadas amostras em bares, restaurantes, supermercados, distribuidoras, vending machines, ambulantes e quiosques. Também foram coletadas amostras de água e gelo usados para o resfriamento dos produtos. Todas as amostras coletadas apresentaram boas condições higiênicas e sanitárias, além da ausência total de coliformes fecais, Leptospira ou Salmonella, ou seja, a lata não oferece qualquer tipo de risco à saúde dos consumidores.

Além disso, o estudo revelou que entre as embalagens analisadas, as latas apresentaram menor contagem microbiana em relação aos copos de vidros, as garrafas e aos canudos. O biomédico Eneo Alves da Silva Júnior, Doutor em Microbiologia Aplicada aos Alimentos pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP, comparou os resultados do estudo com os padrões microbiológicos dos alimentos definidos pelo Estado de São Paulo (Decreto nº 12.486/78) e pelos padrões definidos pela Anvisa. O biomédico constatou que todos os valores obtidos são muito inferiores à faixa de tolerância para a contagem microbiana nos alimentos: “as latas apresentam condições higiênico-sanitárias satisfatórias, principalmente porque não foi identificado nenhum micro-organismo patogênico”, afirma o doutor Eneo.

No II Seminário Internacional Alumínio e Saúde: Mitos e Realidades, realizado pela Abal em 2003, o Doutor Ian Arnold, especialista em Saúde Ocupacional e Segurança e professor da Faculdade de Medicina da McGill University, em Montreal, Canadá, apresentou um estudo onde comprova que não existem registros que apontem para qualquer tipo de contaminação por latas de alumínio no mundo. Mais do que isso: segundo o Dr. Arnold o uso do alumínio aumenta a proteção dos alimentos, pelo fato do metal ser um excelente condutor de calor e frio, mostrando ser eficiente barreira contra a luz, permitindo uma rápida esterilização destes recipientes.

As fábricas de latas e tampas de alumínio e as instalações envasadoras de bebidas no Brasil estão submetidas a rigorosos padrões estabelecidos pela legislação brasileira, que é considerada uma das mais rígidas do mundo em relação a embalagens e alimentos, o que garante que os produtos cheguem aos comerciantes em perfeitas condições de higiene.

Entretanto, se o processo de armazenamento e de manipulação do comerciante não for adequado para garantir a higiene destes produtos, eles poderão apresentar sujeiras, independentemente do tipo de embalagem utilizada. Por isso, as entidades do setor acreditam que se deve investir na educação da população para garantir a adoção de hábitos básicos de higiene, além da fiscalização dos estabelecimentos comerciais e dos vendedores ambulantes, para verificar as condições de armazenamento e conservação dos produtos comercializados.

“SELOS HIGIÊNICOS”

A adoção dos chamados “selos higiênicos” não é vista com bons olhos nem pelo setor, nem pela Anvisa. Para a Agência, estes selos representam uma solução ineficaz para um problema inexistente. Por meio de um parecer técnico de 2004 (009/04-GTA/GGALI/ANVISA), que opina sobre os projetos de lei que pretendem tornar obrigatório o uso do “selo higiênico” para as latas de alumínio, o órgão regulador foi enfático, “não existem estudos científicos que comprovem a ocorrência de doenças transmitidas por meio de embalagens de refrigerantes ou cervejas, em especial a leptospirose”.

A Anvisa finaliza o parecer elegendo como solução a impressão de dizeres no recipiente que induzam o consumidor a promover a limpeza das embalagens. Para o Dr. Eneo Alves, a higienização das latas antes do consumo é mais eficiente que os “selos higiênicos”, que podem ter efeito contrário ao desejado. Segundo ele, se em algum momento houver passagem de água ou umidade no seu interior, estes selos poderão proporcionar um ambiente propício ao desenvolvimento de microorganismos.

PRECEDENTES LEGISLATIVOS

Seguindo sempre o mesmo padrão e contendo sempre a mesma justificativa baseada na suposta proteção à saúde do consumidor, são vários os projetos de leis que já tramitaram e tramitam nas casas legislativas do país contendo a imposição de obrigação para que a indústria de bebidas adote o chamado “selo higiênico”. Não se tem notícia, porém, de que qualquer um desses tenha se convertido em lei de efetiva aplicação.

 

 

>> Notícias da Lata - Edição 38

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