17-11-2008

Reciclagem destaca-se como principal ‘Emprego Verde’ do Brasil

Relatório da OIT sobre economia verde reconhece o país como líder mundial da reciclagem de alumínio e cita o modelo brasileiro como uma lição para a indústria do futuro

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou, em setembro, documento onde analisa o futuro do emprego numa economia sustentável. O relatório, intitulado “Emprego Verde: Trabalho descente em um mundo sustentável e com baixas emissões de carbono”, foi fruto da dedicação de pesquisadores do Instituto de Vigilância Mundial que, por nove meses, analisaram informações disponíveis internacionalmente sobre o mercado de trabalho e sua relação com o meio ambiente. Entre os resultados do levantamento está a previsão de milhões de “empregos verdes” nas próximas décadas – tanto nos países industrializados como nos em desenvolvimento.

O estudo mostra que os impactos dessa “economia verde” na geração de vagas de emprego já podem ser observados no mundo todo. No Brasil a reciclagem destaca-se como o “emprego verde” que abriga a maior parte dos postos de trabalho e movimenta em torno de R$ 8 bilhões/ano. São cerca de 500 mil pessoas vivendo da coleta seletiva dos resíduos das grandes cidades e livrando o meio ambiente de materiais poluentes. Ao todo, a OIT estima que exista no Brasil um milhão de “empregos verdes”, sendo que os outros 500 mil na área de biocombustíveis.

O relatório da OIT mostra o Brasil como líder na reciclagem de vários produtos, sobretudo o alumínio. Para o conselheiro sênior pelo Desenvolvimento Sustentável e Mudança Climática da OIT, em Genebra, e um dos responsáveis pelo relatório, Peter Poschen, o país teve crescimento em reciclagem após buscar organizar do setor. “Algumas cidades e estados dão exemplo na organização de trabalhadores e instalações modernas, permitindo tratamento eficiente e limpo do lixo coletado”, afirmou Poschen. “É um desafio para todos os países chegar ao nível brasileiro e uma oportunidade de cooperação sul-sul deve ser criada para difundir a experiência já desenvolvida no Brasil”, acrescentou.

O modelo brasileiro de reciclagem é apontado pela OIT no estudo como lição para a indústria do futuro. Como prova do sucesso do país no setor, o relatório destaca, na página 21 (Box 07), o Brasil como líder global em reciclagem de alumínio – título conquistado, este ano, pela sétima vez consecutiva. No documento, a organização ressalta que em 2006 foram coletados 10,3 bilhões de latas no Brasil e que a sua reciclagem permite uma economia anual de 1.976 GWh de eletricidade para o país. O texto reforça que esse montante extra de eletricidade é suficiente para alimentar uma cidade com um milhão de habitantes/ano.

Profissionalização melhora condições de emprego e renda

No documento sobre Emprego Verde, a OIT lembra que, apesar de a reciclagem colaborar com a conservação do meio ambiente, pode ao mesmo tempo promover postos de trabalho “sujos, perigosos, que fazem mal à saúde, além de muitas vezes mal pagos”. Segundo o relatório, em muitos países em desenvolvimento a reciclagem é feita por uma rede informal de catadores de lixo e que esforços para formar cooperativas têm aumentado a renda desses trabalhadores, como no caso brasileiro, onde cerca de 90% do material coletado para a reciclagem é feito por meio de catadores organizados em cooperativas.

Para Renault Castro, diretor executivo da Abralatas, este é um dos principais diferenciais do modelo de reciclagem brasileiro. “A profissionalização do sistema garante ao trabalhador melhores condições de trabalho e renda, além de ajudar a combater o trabalho infantil na atividade”.

A OIT acha que a proposta brasileira deve ser um exemplo para outros países e faz um apelo para que haja um diálogo social entre governos, trabalhadores e empregados para discutir o assunto e auxiliar na criação de condições adequadas de trabalho.

>> Notícias da Lata - Edição 22

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