17-11-2008

Modelo brasileiro de reciclagem é exemplo para o mundo

Formado em engenharia florestal pela Universidade de Friburgo, na Alemanha, e com doutorado em ciências naturais, o alemão Peter Poschen foi o responsável pelo acompanhamento do relatório “Emprego Verde: trabalho decente em um mundo sustentável e com baixas emissões de carbono”. Conselheiro sênior pelo Desenvolvimento Sustentávele Mudança Climática da OIT, Poschen tem mais de 25 anos de trabalho e estudos relacionados com temas ambientais, como o uso da terra e de resursos naturais e industriais. Trabalhou em mais de 20 países na Ásia, África e América Latina, sendo uma de suas experiências mais marcantes a atuação como coordenador nacional de projetos da OIT, no Chile, sobre o meio ambiente e trabalho. Em entrevista ao Notícias da Lata, Poschen comentou o trabalho que vem sendo desenvolvido no Brasil com relação à reciclagem, apontada no relatório como o principal “emprego verde” do país, e destacou avanços na organização do modelo brasileiro.

O que levou a OIT a desenvolver o relatório mostrando e analisando a geração de emprego que vem surgindo devido à conscientização e o surgimento de novas tecnologias ambientais?
Poschen – Fica claro que os desafios do meio ambiente (poluição, lixo, mudança climática, perda de biodiversidade, carência de água etc.) comprometem o desenvolvimento econômico e humano. Em muitos países o custo ambiental já é tão alto como a taxa de crescimento econômico, ou seja, o crescimento não gera beneficio para sociedade.

Qual o perfil dos novos trabalhos que surgem da luta contra o aquecimento global?
Poschen – Os empregos verdes permitem reduzir o impacto ambiental da atividade produtiva: desmaterializam e descarbonizam a economia, reduzindo os insumos necessários de matérias-primas e de energia. Dessa maneira, evitam também emissões de gases de efeito estufa, mas não é só o aquecimento que é visado. Também a reabilitação de recursos naturais como a biodiversidade, por exemplo.

Existem barreiras para um crescimento ainda maior do chamado “emprego verde”?
Poschen – Sim. Nas recomendações do relatório tem uma lista: os subsídios perversos (fomentando consumo de energia, por exemplo, ou desmatamento), os preços que não levam em conta o custo ambiental e climático, a falta de pesquisa e desenvolvimento em tecnologias limpas, a falta de regulamentos e metas ambientais (ou a cobrança insuficiente dessas metas). Também se necessita de uma maior coerência entre políticas econômicas, ambientais e sociais. O aquecimento global é tratado como um problema ambiental e técnico, mas é na verdade um tema econômico e social.

Quais as principais áreas em que será gerado o chamado “emprego verde”? Poschen – Eficiência no uso da energia na indústria e nos prédios (edifícios), energias renováveis, reciclagem de uma grande gama de matérias, transporte público e serviços ambientais (água, biodiversidade, fixação de carbono etc.).

Segundo o relatório, no Brasil a reciclagem é o “emprego verde” que abriga a maior parte dos postos de trabalho. Como a OIT vê o modelo de coleta e reciclagem de resíduos e latas de alumínio no Brasil?
Poschen – Como diz o resumo do relatório, o Brasil é um líder na reciclagem de várias matérias em particular o alumínio. Além da poupança de energia e recursos naturais, o Brasil fez um esforço para estruturar o setor e melhorar as condições de trabalho e o nível da renda dos trabalhadores. Isso é chave para um setor de reciclagem moderno que faz parte de uma cadeia de valor agregado industrial.

O relatório não considera “emprego verde” aqueles que não oferecem ao trabalhador condições adequadas. O senhor acha que as cooperativas, com a capacitação desses trabalhadores, podem levar ao reconhecimento da atividade de catadores de lixo como emprego verde?
Poschen – Sim. A reciclagem tem que deixar de ser emprego para quem não achou alternativa. Para isso vai precisar de mais qualificação no futuro, atuando nas coletas de eletrodomésticos, computadores, telefones celulares, e também na de substâncias perigosas que não podem ser tratadas por “catadores de lixo” – o que supõe necessidade de formação e mão-de-obra estável.

>> Notícias da Lata - Edição 22

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