23-04-2012

Do lixão para a representação dos catadores no mundo

Quem vê hoje a desenvoltura de um dos principais coordenadores do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), Severino Lima Júnior(foto), falando com intimidade com o ex-Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, ou representando os catadores em eventos internacionais em países como Chile, Índia e Suíça nem imagina que Severino passou sua infância em um lixão da capital do Rio Grande do Norte

Severino nasceu em Natal (RN), vindo de família humilde, aos 12 anos já trabalhava vendendo picolé nas ruas para ajudar no sustento da casa. Apesar do esforço, o dinheiro que recebia era muito pouco se comparado aos meninos da sua idade que trabalhavam no lixão, como catadores de material reciclável. E foi aí que começou a trabalhar como catador. “Eu nunca deixei de estudar. Pela manhã eu ia para o lixão e à tarde para escola. Tenho boas recordações do lixão. Muitas relações pessoais de lideranças e a experiência que tenho hoje, devo ao que vivi dentro do lixão”, afirma.

O catador permaneceu no lixão até os 18 anos, quando saiu para servir a Aeronáutica. Após o tempo em que poderia permanecer na Força Aérea, sem ter outra profissão, voltou para o lixão em meados de 1997. “Voltei na época em que o Ministério Público queria fechar o lixão por conta das crianças que estavam trabalhando lá. Vi um papel sobre a reunião que iria acontecer, coloquei uma roupa e fui. Durante a reunião, falei que eles não poderiam fechar o lixão porque havia muitos adultos que tiravam seu sustento daquele lugar. A solução era impedir o trabalho das crianças.”, conta Severino.

Daí em diante, Severino se envolveu completamente com a causa. Em 1999 ajudou a criar a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis (Asmare). “Começamos a organizar os catadores, cerca de 700 pessoas trabalhando. Naquela época pedíamos apenas equipamentos de segurança, hoje lutamos para acabar com o trabalho subumano, garantir o acesso ao material reciclável de qualidade e de forma digna. O catador não precisa mais estar dentro do lixão”, diz Severino. Tempos depois, a Asmare se transformou no Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).

Ao longo de sua história, Severino também ajudou a implementar o programa de coleta seletiva que existe há oito anos em Natal, única capital a ter criado e implementado, por meio da sua Prefeitura, política que estabelece a contratação de cooperativas de catadores de materiais recicláveis para a coleta remunerada.

Casado há nove anos e pai de dois filhos, o líder dos catadores tem uma rotina pesada de reuniões e viagens internacionais. Participou das Conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas – COP 15, 16 e 17, e a próxima viagem será para Washington-DC, EUA, para reunião com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre o Projeto Catação. Em julho e em agosto estará no Ciclo de Debates Abralatas 2012. “Eu escolhi ser catador, mas hoje meu filho pode ser o que quiser. Ele tem muito orgulho de mim e isso é uma conquista nossa”, conclui emocionado.

>> Notícias da Lata - Edição 43

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