28-10-2022

Ainda há espaço para crescimento

 Matéria por The Canmaker

Tradução por Abralatas

O setor de latinhas de alumínio para bebidas no Brasil vive hoje um de seus períodos de crescimento mais bem-sucedidos desde a instalação da primeira fábrica de latinhas que utilizava o processo D&I (Drawn & Ironed) no Brasil, no final da década de 1980. Mas nem sempre foi assim. O crescimento do mercado foi inicialmente lento e problemas econômicos posteriores prejudicaram a demanda. Agora, porém, as latinhas de alumínio estão conquistando uma participação cada vez maior no mercado de cerveja.

A primeira fábrica de latas de duas peças no Brasil foi construída em 1989 pela Reynolds-Latasa em Pouso Alegre (MG). A cerveja em lata de alumínio para bebidas rapidamente chamou a atenção dos consumidores.

Não demorou muito para a Crown Cork & Seal identificar a oportunidade. A principal fabricante de latas sediada nos EUA já produzia latas de aço de três peças e tampas tipo coroa no Brasil, desde a década de 1940. Além disso, dominava a tecnologia de fabricação D&I, operando fábricas no mundo todo.

O catalisador veio da holding Évora, que tinha interesses em embalagens na fabricação de tampas de plástico em seu portfólio. Em meados da década de 1990, uma joint venture foi sugerida à administração da Crown Cork & Seal, na época em que ela estava trabalhando uma expansão na Europa, com a fusão da CarnaudMetalBox. A Crown aceitou a proposta e, com a formação da joint venture Crown Embalagens, encerrou a operação original para se concentrar na construção da primeira fábrica de latinhas para bebidas no Brasil, em uma área sem ocupação anterior em Cabreúva, no estado de São Paulo. A produção começou em 1996.

O presidente da Crown Embalagens, Wilmar Arinelli, destaca o compromisso da fabricante de latinhas. “O mercado de latas de alumínio teve um crescimento quase ininterrupto no Brasil nos últimos 30 anos,” disse ele. “Estávamos atentos às demandas dos clientes e investimos para oferecer produtos diferenciados, tais como latinhas de diversos tamanhos, impressão em alta definição, vernizes especiais e acabamentos de alta tecnologia, além de instalarmos fábricas em todas as regiões do País facilitando o atendimento de mercados regionais.”

Com formação em finanças, Arinelli ingressou na Crown em 2001, após uma carreira de 15 anos no setor de revestimentos cerâmicos. “Um amigo meu recomendou que eu me candidatasse a um cargo de gerente de tesouraria na empresa. Eu vim para uma visita e achei o desafio interessante. Além disso, eu iria morar perto da minha família e, depois de morar muitos anos no sul do Brasil, isso pesou na minha decisão.”

Sua carreira na Crown também incluiu funções como controller e diretor financeiro, incorporando atividades relacionadas a Suprimentos e TI, até ser convidado para ocupar a presidência em 2015. O convite foi inesperado porque o presidente da empresa na época, Djalma Novaes, não estava no cargo há muito tempo, quando recebeu o convite para chefiar a divisão das Américas. Ele me escolheu para substituí-lo e isso foi um desafio, mas que eu abracei totalmente. Afinal, era o tipo de oportunidade que não aparece com muita frequência na vida. Ele conta que sua trajetória também o ajudou a percorrer seu caminho: “Você tem que entender muito bem o negócio para ter bons resultados financeiros. Então, eu tive que me aprofundar na operação durante meus 14 anos na empresa. Senti que tinha uma boa base para aceitar o cargo.”

Desde então, não faltaram desafios para Arinelli administrar. Da crise econômica que atingiu o País pouco depois de assumir o cargo de CEO há sete anos, à pandemia da Covid-19, o sucesso das latinhas de alumínio no Brasil atraiu muitos outros fabricantes de latas. Quando Arinelli assumiu o cargo mais alto, a Ball Corporation já estava planejando a aquisição da Rexam, que, na época, era líder de mercado no Brasil. Algumas das fábricas da Rexam tiveram que ser alienadas, por questões relacionadas a concorrência, e foram adquiridas pelo Grupo Ardagh. Depois, em 2017, a Canpack, com sede na Polônia, chegou no Brasil comprando a fábrica da siderúrgica CSN perto de Fortaleza, na região nordeste, e a converteu para produzir latinhas de alumínio.

Três anos depois, a Ambev, a maior cervejaria do Brasil e uma divisão da Anheuser-Busch InBev, construiu sua própria fábrica para produzir latinhas e tampas em Minas Gerais. Arinelli diz que enfrentou os desafios de frente. “Felizmente, tenho uma equipe altamente qualificada e experiente, e, juntos, superamos esses obstáculos para ver a empresa aumentar suas vendas em 65% neste período.”

Com cerca de 1.000 colaboradores trabalhando em cinco fábricas de latinhas para bebidas – em Cabreúva, São Paulo; Estância, Sergipe; Ponta Grossa, Paraná; Teresina, Piauí; e Rio Verde, Goiás; juntamente com uma fábrica de tampas em Manaus, Amazonas – a Crown leva o treinamento interno e a retenção de talentos muito seriamente. “Temos uma forte cultura de meritocracia: o reconhecimento é dado a quem vai além. Acompanhamos de perto o crescimento profissional dos principais trabalhadores para garantir que eles desenvolvam todo o seu potencial.” Cerca de quatro quintos dos executivos e gerentes da empresa são promovidos internamente: “Isso garante que a cultura interna seja passada para as gerações mais jovens, mas a contratação externa também é igualmente importante para trazer um novo fôlego e ideias diferentes para a empresa.”

No Brasil, a Crown mantém um programa chamado “Jovem Engenheiro” para atrair novos talentos. Arinelli explica que, diferentemente de um programa de trainee, ele se concentra em recém-formados que trabalham em funções ligadas à fabricação durante alguns anos: “Investimos em pessoas que decidiram que querem seguir carreira nesta área e acolhemos quem vem de outros setores, porque conseguimos ajustar melhor as suas capacidades à nossa forma de fazer as coisas.”

Foco no crescimento

Conhecida por seus fortes laços com os cervejeiros, a indústria de latinhas local aumentou lentamente sua participação em um mercado que dependia de garrafas de vidro retornáveis de 600 ml, que são tradicionalmente compartilhadas em bares de todo o País. Mais de 33 bilhões de latinhas são produzidas por ano, sendo 70% usadas para cervejas. Entretanto, Arinelli acredita que ainda há muito mais espaço para o crescimento das latinhas de alumínio: “O número de latinhas consumidas por habitante ainda é menor do que em outros mercados. Além do mais, o apelo da sustentabilidade de uma embalagem altamente reciclável como a latinha, que tem um índice de reciclagem de 99% no Brasil, certamente atrairá cada vez mais consumidores preocupados com seu impacto no meio ambiente.”

As latinhas também oferecem aos proprietários das marcas um grande espaço para o branding, por isso devemos ver uma evolução interessante nessa área nos próximos anos, com a adoção gradual da impressão digital, que trará outro nível de qualidade à impressão sobre o metal.

“Essa mudança no comportamento do consumidor ganhou força pelos lockdowns durante a pandemia do coronavírus,” confirmou ele. “O consumidor, sem dúvida, mudou seus hábitos ao consumir mais bebidas em casa e eles foram incentivados, não apenas pelo melhor índice entre custo e benefício, mas também pelas qualidades da latinha de alumínio e a disponibilidade dos diferentes tamanhos para cada ocasião.”

“O consumo doméstico, que cresceu muito durante a pandemia e favorece o uso de embalagens recicláveis, veio para ficar. O apelo sustentável e a praticidade das embalagens metálicas só tenderão a aumentar a preferência do consumidor. Na minha opinião, essa tendência será o novo normal.”, complementou Wilmar.

Ele acrescenta que a abrangência do setor está se expandindo com novas categorias de bebidas escolhendo as latinhas como embalagem principal. Além disso, produtores de bebidas já estabelecidos estão mudando para embalagens metálicas ou adicionando-as ao portfólio como parte de um mix de embalagens mais amplo. “Há muito o que explorar fora dos mercados de cervejas e refrigerantes, como os mercados de energéticos, sucos, chás, bebidas prontas, vinhos, hard seltzers… sem falar na água, que está apenas começando.”, concluiu.

Para atender a demanda dos principais fabricantes de bebidas e cervejarias artesanais, a Crown abriu sua sexta fábrica no Brasil este ano em Uberaba, Minas Gerais. O local, com uma área de 200.000 m², terá duas linhas de fabricação de latinhas. Estima-se que uma delas iniciará a produção comercial no segundo trimestre, seguida pela segunda linha no final do ano. Quando estiver totalmente operacional, a fábrica de Uberaba terá uma produção anual de 2,4 bilhões de latinhas, incluindo uma variedade de seis tamanhos para clientes produtores de refrigerantes e cervejarias, incluindo Coca-Cola, Heineken e Petrópolis.

“Nosso negócio demanda muito investimento inicial. Por isso é importante ser estratégico com o aumento de capacidade para garantir um retorno positivo. Estamos muito felizes com nossos resultados até agora e esperamos continuar crescendo no futuro.”