10-10-2012

Recorde sobre Recorde

Nas alturas

Brasil reciclou 98,3% das latinhas vendidas em 2011, historicamente o nível mais alto do mundo

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Modelo de sucesso para diversos países, a reciclagem da lata de alumínio para bebidas no Brasil deu provas que pode sempre surpreender. O novo índice, anunciado pela Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade) e pela Abal (Associação Brasileira do Alumínio), bateu novo recorde nacional e mundial, chegando à reciclagem de 98,3% das embalagens produzidas no país em 2011.

Visualizar o que representa esse percentual não é nada fácil. O índice aponta que 2,1 milhões de latas de alumínio para bebidas são recicladas no país a cada hora (18,4 bilhões de unidades no ano). A quantidade reciclada representa 350 mil metros cúbicos de alumínio prensado, o equivalente a 30 edifícios de 10 andares. Foram 248 mil toneladas de matéria-prima reaproveitadas, que voltaram a ser latas novamente, evitando a extração de 1,2 milhão de toneladas de bauxita, minério que gera o alumínio.

Desde 2001, o Brasil lidera o ranking mundial de reciclagem de latinhas. O recorde anterior registrado no país era de 2009, quando 98,2% das embalagens foram reaproveitadas. “O índice vem se mantendo nesta faixa, o que demonstra que o sistema utilizado é estável, gera renda, emprego e serve de modelo para que outros materiais também atinjam níveis aceitáveis de reciclagem”, avaliou Renault Castro, diretor executivo da Abralatas.

O coordenador da Comissão de Reciclagem da Abal, Carlos Roberto de Morais, lembra que o modelo foi adotado desde o início da produção da lata no país e hoje serve de exemplo na implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Esse resultado tem como b

ase uma cadeia estruturada há mais de 20 anos, que garante uma demanda forte e consistente e que remunera todos os elos envolvidos”.

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Liderança mundial – Sem qualquer interferência pública, o modelo de logística reversa da lata de alumínio brasileira é referência mundial há mais de 10 anos. Os últimos números disponíveis apontam desempenho acima de 90% em países onde há reembolso na devolução da embalagem: Alemanha (96%), Finlândia (95%), Noruega (92%) e Suécia (91%).

A produção de latas nestes países não é muito significativa. Os quatro países juntos produziram aproximadamente um terço do que é fabricado no Brasil (em torno de 6 bilhões de latas). A média na Europa foi de 66,7% em 2010. A meta é chegar a 75% em 2015, segundo a Associação Europeia do Alumínio.

A reciclagem também é elevada no Japão (92,6%) e na Argentina (91,1%), enquanto nos Estados Unidos, maior fabricante de latas do mundo, o índice atinge (65,1%). “O reaproveitamento da matéria-prima é importante em qualquer setor e todos os países estão fazendo sua parte. Cada um está encontrando o seu caminho. O que temos que fazer, no Brasil, é melhorar a qualidade de vida e de trabalho de um dos principais elos desta cadeia, que é o catador de materiais recicláveis”, disse Renault.


Infinitamente sustentável

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Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a economia verde é aquela que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente riscos e danos ambientais. A produção e a reciclagem da lata de alumínio cumprem esse papel. “A reciclagem de alumínio é um sistema que promove o retorno da lata usada ao circuito produtivo, beneficia o meio ambiente e gera emprego e renda para milhares de pessoas”, afirma Renault Castro, diretor executivo da Abralatas.

Em 2011, a reciclagem de 250 mil toneladas de latinhas proporcionou uma economia de 3.780 GWh/ano de energia elétrica do país. O motivo desta economia está na diferença de gasto energético: a reciclagem consome apenas 5% de energia elétrica, quando comparada ao processo de produção do metal primário.

A economia de energia gerada pela reciclagem da lata de alumínio em 2011 equivale ao consumo residencial anual de 6,5 milhões de brasileiros em 2 milhões de residências. Para que se tenha uma dimensão da economia, cada latinha reciclada economiza energia elétrica equivalente ao consumo de um aparelho de TV ligado durante três horas.

Outro dado importante é o fato da reciclagem de alumínio liberar somente 5% das emissões de gás de efeito estufa quando comparada com a produção de alumínio primário. A cada tonelada de metal reciclado, 13,6 toneladas de carbono deixam de ser eliminadas. Sem contar que a cada quilo de alumínio reciclado, cinco quilos de bauxita (minério a partir do qual se produz o alumínio) deixam de ser extraídos.

Há uma outra vantagem, poucas vezes comentada. Como 250 mil toneladas de “resíduos” deixam de ser recolhidos pela coleta regular de lixo domiciliar, pode-se dizer que há uma redução de custos para os municípios. De acordo com o levantamento Ciclosoft 2012, realizado pelo CEMPRE (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), o custo médio da coleta seletiva é de R$424,00/tonelada. Como a lata não “pesou” na coleta, poderíamos dizer que os municípios economizaram cerca de R$ 106 milhões no ano passado com a reciclagem de latas de alumínio.


Emprego e renda

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Estimativas do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNRC) apontam que 600 mil trabalhadores estejam envolvidos exclusivamente com o serviço de coleta seletiva de material reciclado. “A lata de alumínio, em especial, possui valor agregado e fácil aceitação no mercado, o que é de fundamental importância para a renda do catador”, afirma Severino Lima, membro do MNRC.

Em 2011 foram injetados R$645 milhões diretamente na coleta da lata de alumínio. O valor corresponde à remuneração de um salário mínimo mensal para 100 mil habitantes, o equivalente a todos os moradores de uma cidade como Itajubá-MG.

Segundo Severino, o aumento do índice de reciclagem das latinhas demonstra que as cooperativas estão cada vez mais organizadas e enfatiza a importância e o crescimento das parcerias entre empresas, indústrias e associações. “Esse tipo de relacionamento fortalece todos os elos da cadeia e evidencia os catadores, que são os que põem a mão na latinha em primeira instância”, diz.

Em relação à renda dos catadores, os valores variam de acordo com o Estado. Em São Paulo, por exemplo, os catadores recebem, em média, R$1.500 por mês. Já no Nordeste esse valor oscila entre R$400 e R$800. “Hoje a gente já encontra cooperativas que ao invés de vender imediatamente a sucata de alumínio, estão estocando para a venda no fim do ano. O objetivo é criar uma espécie de 13º dos trabalhadores”, afirma Severino.

A sociedade vive uma nova fase quando se trata de reciclagem e destinação adequada de resíduos. Para Severino, não existe mais a percepção do catador coitadinho, drogado, alcoólatra. O governo passou a investir e apoiar mais a categoria com a criação de programas como o Pró-Catador – incentiva o desenvolvimento e capacita os catadores por meio de programas sociais – e a implementação de políticas públicas como as ações Brasil sem Lixão e Recicla Brasil.

“O que a gente luta é para que possamos permanecer nesse trabalho de forma mais digna, garantir o sustento da nossa família e fazer com que o filho do catador possa escolher se quer ser catador ou se quer exercer outra profissão”, conclui Severino.

>> Notícias da Lata - Edição 46

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