06-11-2017

Oportunidade de gigante

Brasil tem tudo para ser exemplo em economia de baixo carbono, acredita Marina Silva

A ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora Marina Silva (foto), abriu o _2° Fórum Economia Limpa, mostrando que o país tem toda a capacidade para ser um exemplo mundial em desenvolvimento sustentável e direcionar a economia no sentido de um projeto de desenvolvimento com descarbonização. “O Brasil reúne as principais vantagens comparativas para liderar pelo exemplo. Ser para o Século XXI o que os Estados Unidos foram para o Século XX. Falta apenas sair da lógica de ser ‘gigante pela própria natureza’ e se agigantar pela natureza das decisões que toma”, afirmou a ex-ministra.

O grande desafio, disse Marina, é considerar que o desenvolvimento sustentável é muito mais que tratar o meio ambiente com respeito, com cuidados com a biodiversidade, gerando energia limpa e renovável. “É preciso encarar como um ideal de vida, uma forma de ser e estar no mundo, do ponto de vista cultural, político, empresarial”, explicou, apontando aqueles que considera serem os pilares da sustentabilidade.

“As Nações Unidas estabelecem que, para um modelo ser sustentável, precisa ser do ponto de vista econômico, social, ambiental e cultural. Eu acrescentaria mais três dimensões necessárias. Para ser sustentável precisa ser também do ponto de vista político, ético e até mesmo estético”, disse a ex-ministra.

Para ela, a dimensão da sustentabilidade ética está na base de tudo. “Boa parte dos problemas que vivemos já possui respostas técnicas. Temos conhecimento para gerarmos energia da água, do vento, da biomassa, do Sol. O que falta é o compromisso ético de colocar a nossa técnica a serviço das decisões que tomamos.”

Tributação – Marina Silva disse que, em toda mudança, é importante perceber os sinais, ter uma visão “antecipatória”. Citando o sociólogo francês Edgar Morin, lembrou que, no começo, as mudanças podem ser apenas um pequeno desvio de curso. “A gente precisa ficar atenta para saber quais são os desvios que a gente quer que prosperem.”

A ex-ministra usou o pensamento do analista ambiental americano Lester Brown para destacar a importância de analisar o custo do impacto ambiental do nosso desenvolvimento. “Ele disse que o comunismo se inviabilizou por não considerar os preços econômicos, e que o capitalismo pode desaparecer por não considerar o preço ecológico, o preço ambiental. Há um custo em relação ao impacto que nós causamos ao planeta. E isso pode comprometer as bases naturais do nosso desenvolvimento.”

A grande aposta do mundo, afirmou, é a descarbonização da economia. “Para isso, é preciso pensar em incentivos, mecanismos de investimento para esta agenda. Porque é a partir dela que vamos gerar os novos empregos, as novas bases de conhecimento.” Marina afirmou que o Brasil não soube usar os princípios estabelecidos na Constituição para fornecer vantagens tributárias para a agenda da sustentabilidade. Exemplificando com o caso da reciclagem da sucata das latinhas de alumínio, criticou a falta de sensibilidade do governo ao permitir a bitributação de materiais destinados à reciclagem e de produtos fabricados com matéria prima reciclada.

>> Notícias da Lata - Edição 75

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