23-06-2005

Comportamento ecológico na teoria e na prática

A partir da observação do comportamento de cidadãos comuns de Brasília e do Rio de Janeiro, a professora de Educação Ambiental da Universidade de Brasília, Cláudia Márcia Lyra Pato, percebeu: por mais conscientizadas que as pessoas pareçam ser sobre as questões ambientais, na prática, agem de maneira bem diferente.

Por que, afinal, essa conscientização teórica não é suficiente para mudar hábitos, desde os mais elementares, como não jogar lixo na rua e economizar água? Pois foi esse o tema da tese de doutorado “Comportamento Ecológico: relações com valores pessoais e crenças ambientais”, defendida por ela, no Instituto de Psicologia (IP), em agosto de 2004. “Trata-se de uma questão muito importante, mas até hoje desconsiderada por estudos e pesquisas”, comenta. (…) “Observou-se que as pessoas que estiveram envolvidas com algum tipo de treinamento ou atividade ecológica por pelo menos dois anos são muito mais conscientes”, explica a professora. Entre as principais conclusões está o fato de a maioria ser mulher e estudante de áreas afins à temática ambiental.

O resultado da pesquisa, de acordo com Cláudia Pato, confirma a importância da educação ambiental em todos os aspectos, mas com respeito às características e diferenças existentes em cada grupo. “Se as pessoas têm valores diferentes, é natural que se envolvam com questões ambientais por motivos distintos”, comenta. A abordagem universalista que tem sido dada ao tema pode ser uma das principais razões que impedem a interiorização e a consciência ecológica. “Se uma pessoa valoriza mais os aspectos econômicos, ela não vai reduzir o desperdício de água porque haverá prejuízos para a natureza e sim porque vai gastar menos dinheiro com a conta”, explica ela. “São essas questões que devem ser apreendidas e administradas no processo educacional”. Cláudia lembra que o primeiro passo para isso é a adaptação de mentalidade de educadores e gestores ambientais.

noticias_da_lata_ed06_claudiaComo está o nível de consciência ecológica no Brasil, em relação aos demais países?
Prof. Cláudia – Apesar de não ter dados que permitam esse tipo de análise, poderia dizer que a consciência ecológica do brasileiro parece estar se expandindo, especialmente nos últimos cinco anos. Entretanto, em comparação com países mais desenvolvidos, estaria menos avançada. Observam-se comportamentos ecológicos dos brasileiros, políticas ambientais
vigentes, gestão ambiental, entre outros.

O que mais contribui para a formação da consciência ecológica na população?
Em minha opinião, a consciência ecológica se desenvolve a partir de vários aspectos associados. Dentre eles, acesso a informações específicas, que permitam a compreensão do processo envolvido em cada ação sobre o meio ambiente, e transmissão de valores e crenças identificados com a visão ecológica, que contribuam para uma visão de mundo e de
homem mais sustentável.

A educação ambiental ministrada nas escolas tem sido suficiente para mudar atitudes e hábitos que trazem impactos para o meio ambiente?
A educação ambiental tem como principal objetivo formar as novas gerações conscientes da questão ambiental, tornando-as capazes de se relacionar com o meio ambiente de maneira sustentável. Assim, pode contribuir significativamente para formar adultos mais “ecológicos”. Entretanto, não é suficiente para diminuir o impacto negativo sobre o meio. O grande desafio permanece: gerações de adultos “atuais”, que tiveram outra formação e que mantêm atitudes, comportamentos e hábitos nocivos ao meio ambiente.

>> Notícias da Lata - Edição 6

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